terça-feira, 20 de outubro de 2009

Doping no Desporto. Testemunho de Fernando Mendes no livro "Jogo Sujo"

O antigo futebolista profissional e internacional português Fernando Mendes, de 42 anos, lançou o livro "Jogo Sujo", onde mantêm o estilo irreverente que o caracterizou ao longo da carreira, que contou com passagens por Sporting, Benfica e FC Porto. Especialmente quando trata do assunto doping, assegurando que era prática comum na altura em que era profissional de futebol. Afirma que se fosse hoje, era possível que repetisse o comportamento: "Se calhar voltava a fazer a mesma coisa, para conseguir objectivos que se calhar muita gente não consegue e eu consegui, em termos de futebol profissional".

Excertos da obra :

"Em determinado período da minha carreira cheguei a um clube que tinha uma grande equipa, um belíssimo treinador e um presidente carismático. Para além destas qualidades, existiram outros ingredientes que facilitaram o nosso percurso vitorioso. Devo dizer que antes de ir para este clube nunca tinha tido qualquer experiência com doping”
"No meu tempo, o doping era tomado de duas formas: através de injecção ou por recurso a comprimido. Podia ser antes do jogo, no intervalo, ou com a partida a decorrer, no caso daqueles que saíam do banco (...) A injecção tinha efeito imediato, enquanto os comprimidos precisavam de ser tomados cerca de uma hora antes do jogo"
"Os incentivos para correr eram sempre apresentados pelo massagista. Passado pouco tempo de estar no clube, ele aproximou-se de mim, e de outros novos jogadores (...) Disse-me claramente que aquilo que ia dar-me era doping, embora nunca tivesse falado de eventuais efeitos secundários. (...) Com o passar do tempo assumi os riscos e tomei doping de todas as vezes que me foi dado. (...) Nunca vi um único colega insurgir-se perante essa situação"
"Se um jogo fosse ao domingo, o nosso médico sabia na sexta ou no sábado quais as partidas que iriam estar sob a tutela do controlo antidoping. Mal tinha acesso à informação, avisava todo o plantel e o dia de jogo acabava por ser directamente influenciado por essa dica"
"Em determinada temporada (...) sou convocado para um encontro particular da Selecção Nacional. (...) Faço uma primeira parte fantástica, mas ao intervalo começo a sentir-me cansado e tenho medo de não aguentar o ritmo (...) O jogo realiza-se num estádio português (...) Estão lá um médico e um massagista de um clube onde jogo (...) No intervalo, peço a esse médico para me dar uma das suas injecções de doping. Saio do balneário da Selecção, sem que ninguém se aperceba, e entro numa salinha ao lado. É aí que me dão a injecção pedida por mim. Volto a frisar que ninguém da Selecção se apercebeu"
"Lembro-me de um jogo das competições europeias contra uma equipa que tinha três campeões do mundo no seu plantel. Um deles era um poderoso avançado no jogo aéreo. (...) Apanhei-o várias vezes no meu terreno de acção. Ele era um armário, com um tremendo poder de impulsão. Mas nesse dia eu saltei que nem um louco e ganhei-lhe quase todas as bolas de cabeça (...) O meu segredo: uma pequena vacina, do tamanho de meia unha, chamada Pervitin"
"Em certos treinos víamos um ou dois juniores que apareciam para treinar connosco. Esses juniores não estavam ali porque eram muito bons ou porque tinham de ganhar experiência. Estavam ali para servirem de cobaias a novas dosagens. Um elemento do corpo clínico dava cápsulas ou injecções com composições ilegais a miúdos dos juniores (...) Diziam-lhes que eram vitaminas e que a urina era para controlo interno"

Daniel Soares
Gil Esperto
João Chagas

1 comentário:

Luísa Ramos de Carvalho disse...

Daniel, Gil e João

Li a vossa mensagem sobre "Jogo sujo" qual é o vosso comentário ao livro? Num dos pontos do nosso programa vamos abordar o tema da normalização, conformismo social, regras e valores de diferentes grupos. Como é que o conhecimento sobre regras e normas sociais se relaciona sobre o que o autor do livro escreve? Fica aberta a discussão...